A tecnologia dos veículos elétricos no transporte público e pessoal ajudaria a reduzir os níveis de poluição dos grandes centros, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, onde o acúmulo de poluentes provocado pelos automóveis a combustão não apenas contribui para afetar a camada de ozônio como vem matando a população. De acordo com o Departamento de Saúde Pública da Organização Mundial de Saúde (OMS), no Brasil cerca de 13 mil pessoas morrem a cada ano.
"Chuvas, como as ocorridas no mês de setembro no Rio de Janeiro, colocam a sociedade e as autoridades em alerta pela preocupação com as doenças provocadas pela contaminação da água acumulada nas enchentes. No entanto, a poluição do ar, muito mais grave e que mata nove pessoas por dia apenas em São Paulo, fica em segundo ou terceiro planos, pois, como não há um momento de caos, seus efeitos só aparecem ao longo do tempo", alerta o diretor presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos, Antônio Nunes Junior.
A Organização Mundial de Saúde preconiza como limite para a qualidade do ar 20 microgramas por m3 de material inalável, sendo que São Paulo apresenta o dobro - 40 microgramas por m3. No entanto, São Paulo não é a capital com a pior qualidade do ar: no Rio de Janeiro o índice é de 60 microgramas por m3.
As informações foram fornecidas pela ABVE com base nos estudos sobre o impacto da poluição em grandes centros urbanos brasileiros, desenvolvidos pelo Laboratório de Poluição da Universidade de São Paulo (USP) e assinados pelo chefe do Laboratório de Poluição, Paulo Hilário Nascimento Saldiva. A preocupação com a saúde pública é um dos pontos que a ABVE destacou para serem discutidos no primeiro dia do 5° Seminário e Exposição de Veículos Elétricos, que acontece até amanhã no Rio de Janeiro, das 8h30 às 18h, no Centro Cultural Light (Avenida Marechal Floriano nº 168), O evento é realizado em parceria com o Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE).
Os números da USP motivaram o tema Meio Ambiente e Veículos Elétricos que contou com as apresentações dos trabalhos sobre Emissões veiculares como causa de doenças - experiências do Rio de Janeiro, apresentado pelo professor de Medicina Social da URJ, Antonio Ponce de Leon, e Emissões Atmosféricas de Veículos, pelo professor da Faculdade de Tecnologia, também da UERJ, Sergio Machado Correia.
Todos concordam em um ponto: a tecnologia dos veículos elétricos no transporte público, como já demonstrado em alguns países, podem representar uma redução significativa nos níveis de poluição, diminuindo o custo dos governos com a saúde pública.
De acordo com os estudos da USP, nos grandes centros urbanos, o transporte é responsável por 70% da poluição. O pior, é que nos últimos dez anos o crescimento populacional foi de 16%, enquanto a frota de veículos aumentou 67%, ou seja, quatro vezes mais que a população.
O presidente da ABVE, Antonio Nunes Junior, cita que o trabalho realizado em São Paulo mostra que, nos dias de maior poluição, quem mora na Capital daquele Estado tem um quadro clínico de inflamação pulmonar (um fechamento pequeno das artérias que podem levar ao aumento da pressão arterial - hipertensão).
A maior parte das pessoas atingidas por este quadro não sente nada, mas durante décadas isso levará a um efeito maior com a redução da expectativa de vida. Na capital paulista, os estudos concluíram que há uma redução, em média, de um ano e meio na expectativa de vida. Outro dado preocupante é o número de mortes por doenças agravadas pela poluição: em São Paulo morrem nove pessoas por dia, vítimas da poluição, o que representa entre 5% a 10% do número de óbitos da capital paulista.
São Paulo, até agora, é o único estado a adotar, em sua frota, ônibus elétricos híbridos, fornecidos pela empresa brasileira Eletra, sediada em São Bernardo do Campo. São 40 ônibus elétricos híbridos em circulação na grande São Paulo, além dos 37 trólebus (que dependem da energia da rede elétrica). Esta empresa brasileira já exportou um lote de 30 trólebus (e prepara uma segunda exportação de mais 30 veículos) para a Nova Zelândia, onde a primeira ministra Helen Clark estabeleceu metas para a fabricação e oferta de carros elétricos no país. A chamada "Estratégia de Energia para 2050" pretende fazer com que nos próximos 42 anos toda a frota de veículos do país seja elétrica ou movida a combustíveis renováveis: até 2020 cerca de 5% dos carros serão elétricos, 25% utilizarão biocombustíveis.
A Eletra também está em negociação com o governo mexicano para a modernização de 60 trólebus e fornecimento de outros 130 veículos novos. Vale lembrar que o governo mexicano, motivado pelos graves problemas que o país enfrenta com relação aos altos níveis de contaminação ambiental, causadora de sérios problemas de saúde da população, decidiu montar uma frota oficial, transformando 1.000 carros a gasolina em elétricos. Trata-se de num plano piloto que prevê não apenas a redução de emissões de gases de efeito estufa, como, também, a economia de combustível.
(Revista Mecânica Online)