Esbanjando charme, o Belcar, nome derivado do termo em inglês beautiful car (carro bonito) teve sua produção iniciada em 1958 pela Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S.A), detentora dos direitos de produção da DKW no Brasil. De acordo com dados da Anfavea, exatos 51.072 Belcars foram produzidos até 1967, ano em que o carro foi reestilizado. Era o último fôlego para brigar contra o Fusca, que vendeu como pão quente no final dos anos 1960.
E foi justamente esta última versão que pudemos conferir, em sua versão “esportiva”. O modelo das fotos foi um dos últimos a deixar a linha de montagem da DKW-Vemag no Ipiranga, na zona sul de São Paulo. Prova disso é a primeira apólice de seguro do carro, datada de 4/12/1967, poucos dias antes da produção do Belcar S ser definitivamente encerrada.
O sedã avaliado também foi um dos primeiros DKWs a estrear o sistema Lubrimat. Como os motores dois tempos não possuem cárter para depósito de óleo, o lubrificante era aplicado diretamente à gasolina — por isso o típico cheiro de óleo queimado. Com a chegada do Lubrimat, que consistia num reservatório especial para o armazenamento do óleo dois tempos, o lubrificante era enviado para o motor por uma bomba específica.
Dono de uma mecânica valente e um jogo de suspensão condizente as estradas precárias da época, o DKW Belcar pouco mudou em relação ao modelo original alemão, o F94. Seu motor 1.0 litro de três cilindros, dois tempos e 55 cv faz tanto barulho quanto uma escola de samba com excesso de tamborins. É como música clássica para os ouvidos que apreciam.
Trocar as marchas na alavanca instalada ao lado da coluna de direção é como reaprender a dirigir. “É difícil porque você não sabe dirigir”, gaba-se o jornalista Flávio Gomes, proprietário do Belcar S. “Ele é todo original, é a coisa mais linda do mundo. Só não fui atrás da placa preta porque ainda não tive paciência, mas estou providenciando isso”, completa.
Outra particularidade do Belcar S é o sistema de roda livre, que pode ser ativado ou desativado com o veículo em movimento por meio de uma alavanca sob o painel. Incorporado para economizar combustível, o dispositivo permite a troca de marchas sem usar a embreagem. Mas quem nunca se deparou com esse tipo de sistema leva um susto ao tirar o pé do acelerador, que automaticamente desengata a marcha deixando o carro “solto”. Desta forma, elimina-se o freio motor, até por que não é uma das maiores virtudes de motores dois tempos.
Apesar de ser um quarentão, o Belcar S de Gomes responde bem. As três primeiras marchas são curtíssimas, enquanto a quarta fica responsável por manter a velocidade estável. Segundo dados da Vemag, o carro acelera de 0 a 100 km/h em 31,3 segundos e atinge a velocidade máxima de 125 km/h. Achou pouco? A Vemag não achava, a ponto de colocar no painel do carro um logotipo “3 = 6”. Era uma jogada de marketing para dizer que seu 3 cilindros dois tempos rendia igual aos 6 cilindros quatro tempos da época.
Gomes comprou este exemplar em 2001, em Brasília, lugar que ele chama de “paraíso dos carros antigos”. “Como a região é muito quente e seca, não há risco de corrosão. Quando o adquiri, ele estava parado há mais de 20 anos. Estava no inventário de um sujeito que não deixou herdeiros”, explica o dono, todo feliz.