Antes restritos a milionários, os carros blindados chegaram à classe média paulista, que, embarcada em maior oferta de crédito, fez a produção e vendas baterem recorde em 2008.
As blindadoras afirmam que, apesar da crise econômica, as vendas nos primeiros três meses deste ano repetiram o bom desempenho de igual período de 2009.
"A crise impactou no final do ano, o que significa que teríamos um 2008 ainda melhor caso ela não tivesse existido, mas 2009 começou bem de novo. Janeiro, fevereiro e março de 2009 estão muito parecidos com os mesmos meses de 2008", disse o vice-presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), Tito Anspach.
O modelo mais blindado do ano passado foi um sedan médio produzido no Brasil que sai da montadora por aproximadamente R$ 70 mil. Para blindar o veículo com o nível III-A, que protege o ocupante até contra disparos de pistola ponto 40, o proprietário paga entre R$ 40 mil e R$ 60 mil. A conta pode ser dividida em até 36 vezes.
"O maior motivo para o bom desempenho é que o crescimento da economia trouxe um pessoal que não tinha condições e que hoje tem poder aquisitivo para tal. Antes era a classe AA, agora é a classe A que compra. A classe média está colocando a blindagem no rol das compras", afirmou Anspach.
Mudou também a forma de financiamento. "O normal era pagar à vista no recebimento do veículo. Agora, pode-se, ao comprar carro zero, incluir a blindagem no financiamento do automóvel. Aí vai para até 36 meses. Direto com a blindadora tem até 12 vezes", disse Anspach.
São Paulo, que detém 70% do mercado, continua puxando o movimento para cima, mas começa a influenciar os vizinhos. O dirigente da Abrablin afirma que o modelo está sendo exportado para Rio de Janeiro e Recife.
"Nessas cidades começa um processo que acontecia em São Paulo há 10, 15 anos. Os ícones da cidade estão se blindando. As pessoas que têm muito dinheiro e visibilidade estão se preocupando."
O aumento das vendas de blindados em São Paulo coincide com o aumento das ocorrências de latrocínios no estado, segundo dados do primeiro trimestre publicados pela Secretaria da Segurança Pública.
Anspach evita relacionar as estatísticas. "Não vi esses números. Considero que as vendas aumentaram porque a economia cresceu e por causa da sensação de conforto e segurança [que a blindagem] dá", afirmou.
Vendas
A venda de veículos zero impulsiona a de usados, também financiados em até 36 vezes, mas com juros mais altos. Há 10 anos instalado no Campo Belo, na Zona Sul de São Paulo, Jurandir de Oliveira afirma que é possível comprar um blindado completo, com bancos de couro e outros itens de luxo, pagando o mesmo valor que se pagaria pela blindagem de um novo.
A diferença está apenas na idade e nas exigências de manutenção. "Tem uma safra de 2003, 2004 e 2005 que estão no mercado pela metade do preço", afirma. Mas ele mesmo recomenda cuidado, com a revisão e certificação do veículo junto ao Ministério do Exército.