"A minha posição é de que nós precisamos transformar isso em uma política permanente até você ter sinais totais de que a crise está debelada", disse o presidente em entrevista exclusiva à Reuters nesta quarta-feira (10).
Ele afirmou ainda não ter conversado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o assunto, mas considera a medida um importante antídoto contra os efeitos da crise no Brasil.
Mantega verbalizou no início desta semana que não tinha nenhuma intenção de prorrogar pela segunda vez a redução do imposto. O alívio fiscal entrou em vigor em dezembro, com prazo inicial até março, quando foi estendido até o meio do ano.
Sobre os impactos da crise, Lula disse que seu governo está preparado para tomar medidas adicionais de estímulo à economia.
No âmbito político, afirmou que, se eleita, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do governo, deve manter os pilares macroeconômicos adotados desde sua posse, em 2003. "A seriedade da política econômica vai continuar."
Juros
No dia em que o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciará a nova Selic, Lula defendeu com vigor a autonomia do Banco Central na definição do juro básico da economia. "Não quero que número seja político", enfatizou.
Perto de terminar seu segundo mandato como um dos presidentes mais populares da história, Lula admitiu que deixará o governo com a frustração de não ter implementado uma lei que desburocratize a execução de obras de infraestrutura.
"Nós fizemos tanta exigência nos marcos regulatórios que hoje eu acho que deveria, logo no primeiro ano (de governo), se soubesse que era assim, ter feito um projeto de lei para facilitar as coisas."
A um ano e meio das eleições, o presidente revelou o desejo de deixar para o sucessor um "novo PAC" (Programa de Aceleração do Crescimento). "No ano que vem, eu pretendo apresentar o novo PAC", afirmou, prometendo deixar a herança com recursos previstos no Orçamento de 2011.
Comércio em real
Às vésperas de uma viagem internacional para encontrar os chefes de Estado de China, Índia e Rússia, os chamados Brics, Lula disse que tem interesse em implementar trocas comerciais em moeda local não só com essas mas com outras economias do mundo, em substituição ao dólar.
"O que queremos fazer com alguns parceiros comerciais, inclusive com o próprio Estados Unidos, é fazer com que a nossa moeda possa ser utilizada pelos nossos empresários. Ter que comprar dólar para pagar um produto que comprou dos Estados Unidos, eu quero pagar em real sem precisar comprar dólar", comentou.
Apesar da importância e da repercussão que o mero debate de uma alternativa ao dólar entre os emergentes gera, Lula afirmou: "Isso não é uma coisa que você faz um acordo e começa a funcionar no dia seguinte."
Sobre os Brics - conceito formulado no mercado financeiro para descrever as principais economias emergentes -, o presidente defendeu uma ação conjunta das quatro nações para reformar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e outros organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Mudou a geografia do mundo", ressaltou. "Os países ricos não são mais os únicos que decidem a capacidade produtiva e de consumo do mundo."
(G1)