Desde julho de 2009 o etanol registra seis meses de altas consecutivas. O valor do litro atingiu a média de R$ 1,775 na última semana, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), R$ 0,45 centavos a mais em relação a março de 2009, o preço mais baixo do ano.
De acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), o principal motivo são as chuvas que, além de prejudicarem as colheitas, irrigam excessivamente o solo: o excesso de água diminui a concentração de sacarose nos pés, reduzindo a produtividade. Assim, embora a safra da cana tenha rendido 540 milhões toneladas neste ano, contra 505 milhões de toneladas em 2008, o produto final – seja álcool ou açúcar – foi menor.
“Tivemos um processo complicado de oferta no segundo semestre em função da chuva. Além do problema de moagem da cana, a umidade reduziu o teor de açúcar”, explica o representante da Unica em Ribeirão Preto (SP), Sérgio Prado.
Apesar da influência climática, a redução da oferta de etanol no mercado também é atribuída ao aumento do preço do açúcar. “Quando se tem um mercado de açúcar mais interessante, é natural que a usina dê preferência à produção de açúcar e, assim, reduza a oferta do álcool”, explica o economista analista de mercado da empresa de consultoria Safra de Mercado, Gil Barabach.
O analista de mercado da Agro FNP Consultoria, Bruno Bosz, também atribui como um dos motivos da alta a valorização do açúcar. Segundo ele, o produto se tornou um negócio mais atrativo em decorrência do aumento do consumo de açúcar na Índia. “Como a produção de cana no país caiu de 26 milhões de toneladas para 15 milhões de toneladas, o produto se valorizou e os usineiros brasileiros direcionaram a produção para a exportação”, ressalta Bosz.
O representante da Unica argumenta que o efeito da demanda de açúcar na produção brasileira não foi tão significativa. “Quase 100 milhões de toneladas de cana da produção total vão para as destilarias. As novas fábricas de etanol não produzem açúcar, já as mais tradicionais dividem a produção na proporção, no máximo, de 40% de etanol e 60% de açúcar, ou vice-versa”, explica Sérgio Prado.
Para agravar o quadro atípico, as vendas de veículos flex atingiram patamar recorde em 2009. E foi o conjunto oferta em baixa e demanda em alta que fizeram os preços subirem tanto. Em média, o litro do etanol na usina custa atualmente R$ 1,10, segundo Bruno Bosz. Nos postos de combustíveis em São Paulo, no entanto, o valor cobrado ao consumidor final supera R$ 1,60.
Na opinião do consultor da Agro FNP Consultoria, se a demanda continuar alta, os preços podem passar a casa de R$ 1,80.“As chuvas continuarão e, para agravar, estamos no período de entressafra na região Centro Sul, a maior produtora de cana. Esse fato por si só já faz os preços subirem”, analisa. A colheita da cana-de-açúcar só começa em abril e vai até dezembro.
O próprio representante da Unica afirma que, agora, o que vai determinar o preço do etanol é o próprio consumidor de carro bicombustível, ao abastecer com gasolina. Para compensar, o preço do etanol deve corresponder a, no máximo, 70% do valor da gasolina, pois o rendimento do álcool é menor do que os derivados de petróleo. “Ninguém vai querer perder o mercado de combustível por muito tempo. Se a procura por gasolina aumentar, teremos de reajustar os preços para baixo, para sermos competitivos”, diz Prado. “O carro flex estabelece um parâmetro novo de mercado”, reconhece.
(G1)