Em abril deste ano o Rali dos Sertões virou etapa da Copa do Mundo de Rali Cross-Country. Para isso, a Dunas, empresa que organiza o rali, precisou correr contra o relógio para se adaptar às exigências da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) em dois meses.
Uma das principais mudanças foi o fim do limite de velocidade para carros, que antes era de 150km/h. A organização impôs uma série de outras regras. As principais dizem respeito à segurança dos carros. Em caso de acidente, por exemplo, se um carro tiver qualquer amassado em sua gaiola, a FIA lacra o veículo e ele não pode voltar à pista. No Brasil, carros envolvidos em acidente são consertados e voltam a competir. No passado, pilotos estrangeiros de grandes montadoras abriram mão do Rali dos Sertões porque as regras de segurança não estavam no padrão da FIA.
Para somar pontos na Copa do Mundo, os carros precisam ainda ser homologados pela entidade e usar determinador aparelhos como e-track e GPS. E esses equipamentos só podem ser comprados de empresas da confiança da FIA. O problema é que fica muito caro para as equipes menores do Brasil fazerem todas essas adaptações. Além disso, sem limite de velocidade os carros nacionais ficam com muito atrás dos que representam as grandes montadoras. Este ano, por exemplo, os Touaregs, da Volkswagen, estão aplicando uma surra nos outros carros.
O presidente da Dunas, Marcos Ermírio de Moraes, não gostou das modificações impostas pela entidade que regula o automobilismo mundial no Rali dos Sertões 2008. Ele preferia a prova voltasse a ser como era antes:
- O que vale a pena é fazer parte do calendário da FIA, ter os estrangeiros competindo por aqui. Isso enquanto não existir um regulamento específico para o Brasil. Nosso foco é o mercado nacional. Não interessa à Dunas que o Sertões faça parte da Copa do Mundo de Rali Cross-Country.
Segundo o navegador da equipe Petrobras Lubrax, Youssef Haddad, que compete em um dos seis carros homologados pela FIA, se o rali voltar a ser o que era, ele vai perder prestígio internacional e ser nivelado por baixo.
- É um retrocesso. Vai desestimular a vinda das grandes montadoras ao rali. Além disso, as principais equipes brasileiras vão continuar sem se adaptar às regras da FIA, e nem vão ter parâmetros de comparação para evoluir e competir em provas internacionais como o Dacar. Que graça terá vencer o Rali dos Sertões sem os principais pilotos do mundo? – questionou Youssef.
FIA pede por mudanças
Membros da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) estão por toda parte no Rali dos Sertões. Um deles é o português João Passos, observador da entidade. Para ele, as dimensões continentais e a geografia privilegiada fazem do Brasil um dos melhores lugares do mundo para ralis:
- É uma competição que tem tudo para se tornar uma das melhores provas de rali do mundo. Apesar dos elogios, o conselho da FIA espera que o Rali dos Sertões se adapte às regras internacionais o mais rápido possível.
- É preciso rever a regulamentação brasileira para as competições de rali. A organização do rali e a Confederação Brasileira de Automobilismo têm que se unir para ajustar esses detalhes – disse Para João Passos, adotando as regras da FIA, o rali atrairá ainda mais montadoras.
- Existe um enorme mercado no Brasil para as grandes montadoras. A Volks já declarou, por exemplo, que, se a prova fosse na Argentina, não viria.