Fabricantes indianas e chinesas buscam prestígio de montadoras tradicionais colocadas à venda por americanas
Nas histórias de naufrágios, há sempre o personagem desbravador que procura o tesouro perdido num navio no fundo do mar. Na indústria automobilística atual, esse papel é desempenhado por algumas fabricantes asiáticas, que buscam prestígio mundial aproveitando a tempestade que afundou a indústria americana. Elas adquiriram ou negociam a compra de marcas que pertenceram a GM e Ford, obrigadas a se desfazer de algumas companhias como parte de seus processos de reestruturação, após anos seguidos de prejuízos.
A indiana Tata e a chinesa Geely são exemplos de grandes companhias asiáticas que buscam credibilidade para expandir suas operações mundiais em marcas de luxo como Jaguar, Land Rover, Volvo e Hummer. "Somos uma pequena fabricante dentro de um grande grupo, mas temos a contribuir com tecnologia e tradição na indústria", diz o diretor geral das operações globais da Land Rover, Phil Popham.
O conglomerado atua em diversos ramos, entre eles os de siderurgia e softwares. Mas até a compra das marcas inglesas de veículos era pouco conhecido fora da Índia e, pouco antes de o contrato ser fechado, seu presidente e proprietário, Ratan Tata, deixou claro o objetivo da fusão: "Queremos ganhar visibilidade global para nossa divisão automobilística."
Após as aquisições, a Tata ficou mais conhecida, o que aumentou a visibilidade de sua mais ousada empreitada: lançar o Nano, considerado o carro mais barato do mundo. Ao preço de R$ 2,5 mil na Índia, é como um mundo inverso ao luxo dos Jaguar e Land Rover. O carrinho também irá para a Europa e há planos de trazê-lo ao Brasil.
Dois outros grupos negociaram a compra das fabricantes inglesas, entre eles o também indiano Mahindra, cuja divisão de veículos atua no Brasil e monta picapes e utilitários-esportivos em Manaus (AM).
Outra asiática que quer aproveitar a crise para ganhar visibilidade é a Geely. No mês passado, a chinesa tentou se associar à austro-canadense Magna para adquirir a Opel, divisão europeia da GM (veja mais ao lado). A parceria não deu certo e a Magna se uniu a um banco russo para consolidar a operação.
Na semana passada, surgiu a informação de que a Geely agora mira outra marca de luxo colocada à venda pela Ford, a sueca Volvo. Reportagem publicada pela agência de notícias Associated Press na quinta-feira sugeriu que 100% da fabricante poderá ser da Geely e que o objetivo da empresa seria o mesmo da Tata: tornar-se mais conhecida, prestigiada e, assim, expandir sua atuação global.
Uma das maiores montadoras da China, a Geely produz veículos de vários segmentos, a maioria cópias de carros ocidentais, japoneses e sul-coreanos. Um exemplo é o GE, mostrado no último Salão de Xangai, em abril. Trata-se de um clone do Rolls-Royce Phantom. A fabricante também se uniu à britânica PLC para produzir o TX4, mais conhecido como "Black Cab", os famosos táxis do Reino Unido.
A americana Hummer, colocada à venda pela GM, é outra que deve parar nas mãos dos chineses. Neste caso, trata-se da fabricante de maquinário para construção civil Tengzhong. A fusão está em fase de aprovação.
(Estado de São Paulo)