Uma semana depois de o Ministério de Minas e Energia anunciar a antecipação da obrigatoriedade do biodiesel B5 — adição de 5% de óleo vegetal ao combustível de petróleo — de 2013 para 1º de janeiro de 2010 as produtoras do óleo combustível “verde” querem mais. Elas já pressionam o governo a introduzir no cronograma do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) a utilização obrigatória do B20 (mistura de 20% de biodiesel no diesel) a partir de 1º de julho de 2010, além de proibir a comercialização do diesel 500 ppm de enxofre nas regiões metropolitanas do país, que será substituído pelo diesel de 50 ppm (S50).
O pedido dos produtores vai de encontro às metas de redução de emissão de gases do efeito estufa que o Brasil levará para a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em dezembro, em Copenhague (Dinamarca). De acordo com anúncio realizado nesta sexta-feira (13) pelo governo federal, o aumento do uso de biocombustíveis no país está entre as estratégias que serão adotadas.
A Petrobras tem até 1º de janeiro de 2012 para fornecer o diesel menos poluente às principais capitais brasileiras. Por isso, os produtores de biodiesel têm pressa. A União Brasileira de Biodiesel (Ubrabio) defende a aplicação do B20 metropolitano gradativa. De acordo com o presidente entidade, Juan Diego Ferrás, a mudança começaria em São Paulo e passaria gradativamente para outras capitais como Rio de Janeiro e Recife.
Falta de capacidade produtiva e de tempo para se adaptar à possível mudança não são problemas, na opinião de Ferrás. “O B5 foi antecipado porque temos produção de biodiesel 30% acima do que é consumido, então, para escoar a produção, a data foi antecipada, o que já previa a lei existente para obrigar o uso do biodiesel”, afirma.
O que não significa que as usinas já existentes não tenham de investir para atender ao B5. Ampliações e novas contratações formam o novo cenário das empresas de biodiesel no Brasil. Nas previsões da Ubrabio, o setor trabalha com 400 mil postos de trabalho diretos e indiretos (o que inclui a agricultura familiar para o fornecimento de sementes oleaginosas, transporte, equipamentos etc.), que deverá subir para 500 mil empregos com o início do B5.
Já o faturamento do setor subirá de R$ 6 bilhões (previstos para 2009) para R$ 7 bilhões, o que considera a arrecadação com a venda de subprodutos como farelo de soja e glicerina e o desconto dos impostos. Esse faturamento representa 25% dos R$ 28 bilhões faturados pela indústria de etanol.
Para Ferrás, a obrigatoriedade de uso do “B20 metropolitano” no país deverá acontecer por meio de Medida Provisória, apesar de já existir um projeto lei do deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame, em discussão no Congresso, em defesa do B20 metropolitano.
“A nosso favor temos o fato de que o biodiesel é menos poluente, por não possuir enxofre e proporcionar cerca de 80% menos emissão de CO2, ou seja, é uma questão de saúde pública, estimula a agricultura familiar e é um negócio 100% sustentável”, argumenta o presidente da Ubrabio. O biodiesel é processado a partir de oleaginosas como soja, mamona, algodão e girassol e de sebo animal.
Atualmente, 80% do biodiesel negociado nos leilões promovidos pelo governo é direcionado a fabricantes de biodiesel que possuem o “selo social”. Só ganham esta certificação os fabricantes que compram, pelo menos, 30% das matérias-primas no Sul, Sudeste e Nordeste de agricultores familiares. No Norte e no Centro-Oeste, a exigência é de 10%, mas passará para 15% em 2010.
A expansão do setor
Discussões ambientais à parte, a preocupação das empresas de biodiesel no país foca a grande concorrência existente. O Brasil tem capacidade para produzir por ano 3,4 bilhões de litros. No entanto, a produção atual é de 1,8 bilhão de litros devido à demanda. Com a introdução do B5, o volume produzido subirá para 2,4 bilhões de litros. “A concorrência nos leilões é muito forte e a capacidade ociosa é extremamente custosa para os produtores”, diz Juan Diego Ferrás, que também é diretor industrial da Granol, líder no mercado brasileiro de biodiesel.
De acordo com o diretor da Binatural, João Batista Cardoso, o Brasil possui atualmente 65 usinas de biodiesel, que conseguem atender o fornecimento de até 10% na mistura com o diesel, o B10. No entanto, segundo ele, em 2010 mais oito usinas serão inauguradas no país. Assim, a capacidade de produção brasileira subirá para 5 bilhões de litros.
Como o produto é vendido por meio de leilões, que rendem a média de R$ 2,6 mil por metro cúbico de biodiesel, os investimentos em usinas e tecnologia são altos. A líder Granol, por exemplo, injetou neste ano R$ 100 milhões na ampliação das duas usinas que possui, uma no Rio Grande do Sul e outra em Goiás. A expansão vai gerar o aumento de 100 empregos diretos ao quadro de funcionários que já conta com 1,6 mil pessoas. Caso o B20 metropolitano seja aprovado, Juan Diego Ferrás acredita que mais duas fábricas serão construídas, uma em São Paulo e a outra na região Norte. “O céu é o limite”, brinca Ferrás.
No caso da Binatural, com instalação no Rio Grande do Sul, foi preciso ampliar a produção diária de 84 mil litros para 300 mil litros em função do B5. Para isso, o número de contratações diretas subiu de 45 para 110 pessoas. O faturamento da empresa é de R$ 65 milhões. “É um negócio extremamente promissor. Curitiba, por exemplo, já testa ônibus com 100% de biodiesel. O Rio de Janeiro utiliza ônibus B20”, diz João Batista Cardoso.
Além do mercado interno, o diretor da Binatural já olha para as exportações. Segundo Cardoso, o biodiesel brasileiro tem elevada qualidade, o que o torna competitivo nos mercados internacionais. “A partir de 2011 já temos condições de exportar para Europa e Ásia”, afirma o empresário.
O diretor da Brasbiodiesel (divisão do Grupo Bertin), Rogério Barros, afirma que com o B5 a produção anual da empresa subirá de 125 milhões de litros de biodiesel para 200 milhões de litros. Assim, o quadro de funcionários ampliará de 200 para 250 pessoas. Barros não revela o quanto foi investido na expansão, mas afirma que a Brasbiodiesel vai faturar neste ano R$ 250 milhões.
Segundo ele, entre os principais investimentos da empresa está a pesquisa de novas tecnologias. A companhia fechou parceria com a MAN Latin América, a BR Distribuidora, a Cummins Latin America e a Bosch para teste de um caminhão abastecido com B100 (100% de biodiesel). Nessa proporção, é necessário alteração na parte mecânica do veículo para que não seja afetado pelo uso do óleo vegetal. “Os testes com o B20 já foram feitos e nada precisou ser alterado”, observa Barros, que está otimista quanto às novas possibilidades para o setor caso a obrigatoriedade do B20 metropolitano for autorizada pelo governo.
Questionado sobre a ameaça que os produtores de biodiesel representam às refinarias de diesel, Barros acredita que não há o que temer. Segundo ele, o biodiesel é um produto complementar, assim como o etanol. “Tem espaço para todo mundo”, ressalta.
(G1)