Ainda lembro, era junho de 2001 e o Magrão (professor Vilmar Stimamiglio) me pediu o que eu iria fazer com o meu primeiro salário (nessa época eu era professor no Colégio Agrícola Caetano Costa, com meus 18 anos e ainda aguardando a formatura), foi sem pestanejar a minha resposta: Vou juntar ele com os outros que virão pra comprar meu Maverick Ah meu Maverick, sonho de garoto, encasquetei com a ideia, um dia eu teria um e aquele primeiro salário da vida, lembro até o valor R$ 614,27, seria o ponta pé inicial da materialização do meu sonho.
Foi mais além do que eu esperava. Voltei para minha cidade natal e comecei a trabalhar, fazer faculdade, mas sempre sem tirar essa ideia da cabeça. Quando estava reunido com os amigos que passava algum Maverick eu parava de falar, fica observando e dizia aos que estavam à minha volta que um dia eu teria um carro desses. Apareceram alguns, vários deles não ´´cabiam´´ no meu bolso, outro que eu lembro, cheguei muito perto, aliás, entrei nele, não gostei e voltei para casa. Era vermelho, rodas largas e tinha motor V8, mas havia muita coisa para fazer, desde painel mega colorido, podres na lata e um diferencial que vazava mais que retentor de virabrequim de opala (desculpa, nem tanto, nada vaza igual opala). Naquela ocasião rodei 900 km com o dinheiro no bolso para comprar e voltei para casa sem o carro.
Dois anos depois soube de um para venda aqui próximo, cerca de 80 Km da minha cidade e fui lá conferir. Sabe ele não estava perfeito, tinha bancos rasgados, um para lamas amassadinho, o limpador de vidros não funcionava, mas havia algo mágico nele. Pedi ao proprietário (que era então o terceiro dono) para dar uma volta na quadra com o carro… Mãe do céu! Eu lembro suspiro e ainda me arrepio, foi incrível, era pra mim, era o MEU MAVERICK, não seria outro, ele foi feito para mim. Corremos ao banco e depositei o valor. Finalmente eu havia adquirido o meu tão sonhado Maverick, era o ano de 2005, numa tarde de garoa e chuva de uma sexta-feira dia 08 de Abril, há exatos 10 anos.
Lembro da viagem, foi o Ismael quem veio dirigindo ele e eu vinha na frente com a camionete do pai, coitado do Isma, no meio da chuva precisava abaixar o vidro e com a mão limpar o para brisas segurando a palheta na mão (a gente sem amigo não é ninguém). Chegamos a noite em casa e dentro da cidade trocamos de carro, fui com o Maverick para casa e até hoje lembro a cara da mãe e do pai quando me viram descendo o pátio com o carro.
De lá para cá passamos tantas, fizemos tantas coisas. Era meu carro de ir pra faculdade, tive que desmontar ele, foi o carro do casamento, foi meu amigo de estrada, meu quarto nos acampamentos, meu vínculo com as oficinas, auto elétricas, postos de combustíveis, internet, lojas de peças. Mas meu Maverick além de tudo me trouxe amigos, grandes amigos, todos assim como eu loucos, contaminados pela ferrugem, amigos de longe, alguns dos quais eu nem conheço pessoalmente, outros que vi poucas vezes na vida mas que mantemos contato.
Meu Maverick é mais que um simples carro, é um amigo, é uma parte de mim que tem parafuso, lata, óleo, fios, pneus e vidros. Estamos há uma década juntos e pretendo que seja a primeira de muitas que virão, não o trocaria por nenhum outro veículo, se fosse contar tudo, nossa história renderia um bom livro, tenho muito para agradecer a ele, parceiro de tantos sonhos e realizações.
Vou comprar alguns limões e um steinhaeger para mim e para ele uma lata de graxa, um litro de óleo, um galão de gasolina e as velas.
Com licença, eu vou para garagem comemorar com o meu amigo, MEU MAVERICK.
Um FORD abraço.
Sabugo
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