Um ônibus movido a hidrogênio que expele vapor de água no meio ambiente será testado pelo governo do estado de São Paulo nas ruas da região metropolitana a partir do mês de novembro. O protótipo circulará pelo corredor de ônibus ABD Paulista, que liga a Zona Leste à Zona Sul de São Paulo, passando por Mauá, Santo André, São Bernardo e Diadema, no ABC.
Nos primeiros 30 dias, em fase de testes, o ônibus deve circular vazio. Depois o veículo vai trafegar com passageiros, mas continuará sendo monitorado por uma equipe técnica que vai avaliar seu desempenho em diversos horários, do pico aos momentos com menos passageiros. O ABD foi escolhido por ser um corredor exclusivo de ônibus e ter pavimento de concreto.
O projeto, gerido pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), começou a ser elaborado em 1998, por empresas nacionais e estrangeiras. O ônibus é híbrido, movido por um motor elétrico alimentado pela energia elétrica produzida através da célula que processa o hidrogênio ou pela bateria. “É como se fosse um ônibus elétrico, mas sem a rede de energia”, explica o presidente da EMTU, José Ignácio Sequeira de Almeida. O hidrogênio usado no projeto brasileiro, segundo Almeida, é produzido pela quebra da água, pelo método da eletrólise.
“O ganho do meio ambiente é imbatível”, afirma Almeida. Segundo ele, o trólebus (ônibus elétrico) também não polui o ambiente, mas gera poluição visual por causa da quantidade de fios necessárias para o sistema.
O primeiro exemplar terá ar-condicionado e pode transportar até 62 passageiros, mas as outras unidades podem ter aumento de capacidade. Os ônibus a diesel usados hoje em dia na cidade transportam 80 passageiros. De acordo com Almeida, o ônibus a hidrogênio atinge a mesma velocidade de um ônibus a diesel e tem a vantagem de o motor não fazer barulho.
Atualmente, a frota intermunicipal conta com cerca de 4,5 mil ônibus, dos quais apenas 76 são trólebus. Segundo Almeida, o custo desse ônibus movido a hidrogênio é maior que o dos ônibus a diesel, porém sai mais em conta que o dos trólebus. Todo o projeto, que envolve a criação de outros três protótipos, a unidade de produção, armazenamento e abastecimento, foi orçado em mais de R$ 20 milhões.
Para o Greenpeace no Brasil, o exemplar a hidrogênio não é o ideal, pois gasta muita energia para produzir cada partícula de hidrogênio, mesmo pelo método da eletrólise. “Fica um balanço negativo de energia”, afirma Sergio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace no Brasil. A organização defende um maior uso dos trólebus, que gastam menos energia. “No momento, achamos mais viável investir nos trólebus”, diz Leitão.
Para o especialista em transportes e ex-secretário estadual de Transportes (1984 – 1987) Adriano Branco, a iniciativa é um passo importante para o país, pois os ônibus movidos a hidrogênio poluem bem menos que os a diesel e têm maior flexibilidade que os trólebus, já que não precisam seguir uma rede elétrica para se movimentar. “Trólebus depende de um corredor de maior demanda por causa da manutenção de uma rede elétrica. Os movidos a hidrogênio são melhores para corredores de menos densidade”, explica Branco.
Segundo ele, o maior gasto de energia na produção do hidrogênio, citada pelo Greenpeace, é minimizado pelas novas tecnologias empregadas no processo e também é bem menor que a energia gasta com a produção do diesel. “O rendimento energético de um trólebus está na ordem de 75%, do a hidrogênio em 50% e do a diesel, 30%”, diz.