Carros
Citroën Traction Avant
Só mesmo um projeto de grande impacto e popularidade consegue alcançar 23 anos entre a primeira e a última unidade fabricada. Foi o caso do Traction Avant, produzido pela Citroën de maio de 1934 a julho de 1957, salvo por um período da Segunda Guerra Mundial. Na engenharia e no estilo, poucos carros antes da guerra surpreenderam como ele, que estabeleceu a tradição da marca de encontrar soluções heterodoxas - e, na história da Citroën, poucos carros trouxeram tantas inovações quanto o Traction. A maior delas, é claro, foi a que deu origem a seu nome, a tração dianteira. Mas ele não era inovador só por isso. Também era novidade um carro feito em larga escala ter estrutura monobloco e usar barras de torção na suspensão dianteira e traseira, configuração rara até então.
Desde 1930 o fundador da empresa, André Citroën, desejava produzir um carro com tração dianteira. Era uma idéia que o engenheiro e piloto André Lefèbvre já tentara desenvolver em vão quando estava na Renault. Havia casos isolados de carros com esse tipo de tração. Porém, até a chegada do Traction Avant, sua estrutura mecânica era organizada na seguinte ordem, a partir da grade: diferencial, câmbio, embreagem e motor, que invadia demais o espaço dos passageiros. Muito recuado, ele tracionava pouco as rodas, especialmente em subidas íngremes e pisos escorregadios. No projeto de Lefèbvre o câmbio passava a ficar à frente do eixo dianteiro, o que afastava o motor do habitáculo.
Já a carroceria criada pelo italiano Flaminio Bertoni se destacava pela pouca altura, ressaltada pela ausência de estribos e pela baixa linha da cintura, o que mantinha o centro de gravidade mais próximo ao chão. Essas características fizeram da estabilidade uma das principais qualidades do Traction Avant. Sua história começou com três versões: 7A, com um quatro- cilindros de 1,3 litro e 32 cv, 7B, com um 1.5 de 35 cv, e 7 Sport, com um 1.9 de 42 cv, todos com válvulas no cabeçote. O câmbio era de três velocidades e os freios, hidráulicos. Havia as carrocerias Berline (sedã), Faux Cabriolet (falso cabriolet, ou cupê) e Cabriolet (roadster). A produção logo atingiu 300 veículos por dia, apesar de as primeiras unidades terem problemas no motor e falta de rigidez na carroceria.
Mas a evolução do modelo começaria sem demora. No Salão de Paris de 1934, a Citroën apresentou a versão 11, com motor 1.9 de 46 cv. No sedã ele era 14 centímetros mais largo e 40 centímetros mais longo que o projeto 7, com espaço para até nove passageiros em três fileiras de banco. O 7 Sport mudou de nome para 11 Légère (leve).
Depois da guerra, a evolução do Avant prosseguiu mais lenta, tendo como destaques o porta-malas saliente de 1953 e a suspensão traseira hidropneumática do 15 Six no ano seguinte, recurso que mantinha o porta-malas nivelado, independentemente da carga, e prenunciou o sistema que equiparia o revolucionário Citroën DS. Com a chegada deste, em 1955, o Traction Avant preparou sua saída de cena, formalizada em 1957, depois de 759 123 exemplares produzidos em suas variadas versões. Graças a ele, a imagem vanguardista da Citroën já estava enraizada havia mais de duas décadas.
(Revista Quatro Rodas)
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